![]() |
Um macho bonobo |
Pesquisas mostram que a semelhança entre os macacos e os humanos é muito maior do que se imaginava
"Washoe" é uma fêmea de chimpanzé de 33 anos de idade criada desde pequena em laboratórios de pesquisas. Carinhosa com seus filhotes, esperta e curiosa, ela come com colher, brinca de boneca e, quando fita atentamente os visitantes que a olham do lado de fora da jaula, dá a impressão de que "só falta falar". Não falta, não. Washoe fala. Ela é capaz de se comunicar com os pesquisadores usando uma versão simplificada da linguagem dos surdos-mudos. A chimpanzé consegue elaborar sentenças com sujeito e predicado usando até sete palavras, e os pesquisadores estimam que ela tenha a mesma capacidade de comunicação de uma criança pequena. Washoe faz parte de um dos mais instigantes movimentos científicos dos últimos anos. Existem hoje, nos laboratórios americanos, 1.600 chimpanzés sendo estudados por psicólogos, lingüistas e biólogos. E os frutos de todo esse trabalho começaram a surgir nos últimos meses, numa série de estudos que vão do esclarecedor ao altamente polêmico. Todos eles, porém, são unidos por uma conclusão comum: os macacos são muito, mas muito mais parecidos com os humanos do que se pensa.
Segundo os cientistas, os macacos pongídeos termo usado para designar os bichos mais próximos do homem, como gorilas, orangotangos, chimpanzés e bonobos vivem em sociedades organizadas, em que as relações entre os indivíduos são semelhantes às humanas. Diferentemente dos animais mais primitivos, aos quais se atribuem apenas emoções simples, como medo e fome, os macacos parecem possuir sentimentos complexos, como compaixão e solidariedade. Sua capacidade intelectual está muito acima de todo o restante dos bichos. E, para quem faz questão de comparações traduzíveis em números, a diferença entre o código genético dos chimpanzés e o dos seres humanos é de apenas 1,6%. Outra semelhança assombrosa foi discutida num artigo publicado há um mês pela revista Science. Sugere-se que a linguagem é uma aptidão inata entre homens e macacos. O conjunto desses estudos vem causando tamanha comoção que no final de 1997 um grupo de biólogos, assessorado por advogados ambientalistas, publicou um documento pedindo a extensão dos direitos humanos aos pongídeos, sob o argumento de que eles também podem ser considerados "pessoas".