sábado, 28 de julho de 2012

Pobreza nos Estados Unidos em Números

Pobreza nos Estados Unidos em Números | Política & Dados:

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Miséria à Americana: Vivendo de Subempregos nos Estados Unidos

Em Miséria à Americana, Barbara Ehrenreich toma o tema da pobreza nos EUA para investigar como sobrevivem os pobres na pátria do consumo conspícuo. Disfarçada de faxineira, garçonete e vendedora, Barbara Ehrenreich empreendeu uma investigação sobre o universo dos subempregos e revelou as reais condições dos trabalhadores de baixos salários nos EUA.
Barbara Ehrenreich
Editora: Record

quarta-feira, 28 de março de 2012

Acossados

Kazuo Okubo 2012
Questões militares. Revista Piauí, n. 66, março 2012

Abusos, homofobia e desvio de dinheiro dentro do Exército se misturam na história da perseguição aos sargentos que revelaram ser um casal em 2008

por CONSUELO DIEGUEZ

O sargento Laci Marinho de Araújo se olhou no espelho e conferiu a farda mais uma vez. A calça verde-oliva e a camisa cáqui estavam impecavelmente passadas; os sapatos, cuidadosamente lustrados. Ele ajeitou o quepe sobre os cabelos pretos, cortados rente à cabeça e modelados com gel, e comprimiu os lábios um no outro para fixar o protetor labial de brilho avermelhado. Pegou na penteadeira o anel de prata com a inscrição “Todos os deuses estão comigo”, mantra que repete quando se sente acuado, e colocou-o no dedo médio. Faltava uma hora para o início do seu julgamento, marcado para as nove da manhã de segunda-feira, 23 de janeiro. Ao seu lado, o sargento licenciado Fernando Alcântara de Figueiredo também verificou a indumentária. Alisou as mangas do terno preto de risca de giz sobre a camisa branca e a gravata preta. Pouco depois, embarcaram num Ford Fiesta preto, com Fernando ao volante, e deixaram o prédio onde moram, na Asa Norte, em Brasília, numa quadra exclusiva para cabos, sargentos e seus familiares. Laci ironizou, numa inflexão arrastada: “Vamos para o Tribunal do Santo Ofício.” Fernando soltou um riso nervoso e rumou para a Auditoria Militar.

A Auditoria funciona em um prédio branco, no Setor de Autarquias Sul. Até pouco tempo, ocupava o 8º andar do Superior Tribunal Militar, o STM, mas agora ganhou sede própria. É ali que são julgados, em primeira instância, crimes cometidos por integrantes das Forças Armadas, antes de seguirem para o STM.

Ao chegarem, os sargentos foram saudados pelos funcionários civis que atendem na recepção. Uma mulher loura, com uma garrafa térmica na mão, ofereceu café e, sem se dar conta da gravidade da situação, foi efusiva. “Que bom ter vocês aqui”, disse. Era a primeira vez que os dois entravam no novo prédio, embora tenham perdido a conta de quantas vezes Laci foi levado à antiga sede da Auditoria. Sempre que isso aconteceu, Fernando esteve ao seu lado.

O sargento Laci Marinho de Araújo responde a vários processos. O julgamento daquele dia era por crime de injúria. Em 2008, ele acusou a procuradora militar Cláudia Rocha Lamas de acobertar um esquema de corrupção no Hospital Geral de Brasília, o HGeB, administrado pelo Exército, e ela o processou.

Uma recepcionista levou-os até o elevador, que desceu para o subsolo. Ali funciona o plenário do tribunal. Os dois foram conduzidos por um militar até uma sala com pé-direito de quase 3 metros, iluminada por luz fria, com uma pequena abertura gradeada no alto da parede. Havia umas poucas cadeiras de plástico no lugar. Laci provocou: “O que é isso? Estamos nos porões da ditadura?” O militar fingiu não ouvir. Pouco antes das nove, Marcio Palma, advogado do sargento, entrou na sala. Tinha o semblante preocupado. Falou pouco e avisou que seu cliente não assistiria ao julgamento. “É para o seu próprio bem”, disse. “Vamos evitar tumulto.”


sábado, 24 de março de 2012

Sociologia na Escola: ela veio pra ficar!

Um documentário produzido pelo PIBID de sociologia da UFPR sobre a docência de sociologia no Ensino Médio.

Declarações de alunos do ensino médio público de Curitiba.

Acesse o link:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Ziha0tb22lw


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Carne lavada

27.01.2012
O chef e apresentador Jamie Oliver acaba de ganhar uma batalha contra uma das maiores redes de fast food do mundo. Depois que Oliver mostrou o modo como os hambúrgueres do McDonald’s são produzidos, a rede anunciou que irá mudar sua receita. Segundo Oliver, as partes mais gordurosas da carne de boi são “lavadas” em hidróxido de amônia e usadas no recheio do hambúrguer. Antes desse processo, segundo o apresentador, o alimento é considerado impróprio para consumo humano.

“Basicamente, estamos pegando um produto que seria vendido da maneira mais barata para os cachorros e, depois desse processo, dando para seres humanos”, disse ao portal britânico Daily Mail Online. Além da baixa qualidade da carne, o hidróxido de amônia é prejudicial à saúde. Oliver denominou o processo de lodo rosa.

“Por que qualquer ser humano sensato colocaria carne com amônio na boca de suas crianças?”, questionou o chef, que empreende uma guerra contra a indústria de alimentos fast food. Em uma de sua iniciativas, Oliver demonstra para crianças como são feitos os nuggets. Depois de selecionar as partes mais nobres do frango, os restos (gordura, pele e interiores) são processados e fritos.

A empresa Arcos Dourados, gerente da rede na América Latina, afirmou que esse tipo de processo não é praticado na região. O mesmo ocorre com o produto da Irlanda e Reino Unido, que utiliza carne de fornecedores locais. Nos Estados Unidos, Burguer King e Taco Bell já haviam suspendido o uso de amônia em seus produtos.

Leia mais:


Procon multa McDonald’s por venda casada de alimentos e brinquedos
McDonald´s: A propaganda que encobre a exploração
Sindicato acusa McDonald’s de pagar salários irregulares e infringir direitos trabalhistas

No site oficial no Mc Donald’s, a empresa afirma que sua carne é barata porque, ao servir muitas pessoas todo dia, são capazes de comprar de seus fornecedores por um preço menor, e oferecer os produtos de melhor qualidade. Além disso, a rede negou que decisão de mudar a receita esteja relacionada com a campanha de Jamie Oliver. No site, o McDonald’s esclarece que sua carne, apesar de todos os mitos que dizem o contrário, é verdadeira.

Abaixo, Jamie Oliver mostra (em inglês) como são produzidos os hambúrgueres e nuggets da indústria de fast food:


Retirado do site da revista Carta Capital.
Link:  http://www.cartacapital.com.br/sociedade/campanha-de-jamie-oliver-faz-mcdonalds-mudar-receita-de-hamburguer/

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

'Éramos animais': sobrevivente do gulag da Coreia do Norte é hoje rara fonte dos serviços de inteligência sul-coreanos


Kim-Hye-Sook
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
08 de janeiro de 2012

Ela tinha 13 anos quando chegou. E por mais 28 viveu um processo kafkiano de se ver confinada em um campo de concentração sem ter ideia do porquê. Só muito mais tarde soube qual fora seu veredicto: yeon-jwa-je, ou seja, culpa por associação. O avô havia fugido para a Coreia do Sul e o governo da Coreia do Norte decidiu colocar a família dele inteira na prisão, por toda a vida. Ou quase.
Kim Hye-sook é um raro exemplo de sobrevivente de um regime repressivo que ela chama de inferno. A norte-coreana tem sido fonte dos serviços de inteligência sul-coreanos e de outros países para que se entenda a máquina opressiva de Pyongyang. Na ONU, ela também relatou as violações de direitos humanos no seu país natal e vem sendo apoiada por uma rede de ONGs internacionais que inclui a brasileira Conectas.

As estimativas são de que 200 mil pessoas vivam hoje nesse gulag moderno, dividido em seis campos que as autoridades locais negam existir. "Dois de meus irmãos ainda estão presos lá e ninguém pode ter contato com eles", explicou. "Se um dia souberem dentro do campo que eu fugi para o Ocidente, eles serão executados em público." Para os norte-coreanos, ela está irreconhecível. Kim mudou de identidade e de feições.

Nos últimos anos, o governo brasileiro manteve posição ambígua em relação à Coreia do Norte. Na ONU, a embaixadora no país, Maria Nazareth Farani Azevedo, se absteve na resolução que condenava Pyongyang por violações dos direitos humanos. Alegou que o Brasil estava dando "uma chance" ao regime. Brasília abriu uma embaixada na Coreia do Norte e manteve a tese de que o diálogo seria o melhor caminho para reduzir a tensão no país. Há um mundo separando a lógica da diplomacia e os relatos de Kim.

Em 1974, ela, os três irmãos e os pais foram levados para o Campo 18, na Província de Pyongan. Tratava-se de Buk chang, prisão administrada pelo Ministério do Interior que ainda existe com o nome de Gwalliso 18, Colônia Penal 18. Cerca de 20 mil prisioneiros vivem no local, considerado um dos mais cruéis do sistema.

Todos, inclusive as crianças, eram obrigados a trabalhar. Seu pai logo morreria em uma mina de carvão. Um acidente. O que a impressionava eram os assassinatos nada acidentais. "Um dia antes da execução, guardas anunciavam a todos o que iria ocorrer e éramos obrigados a assistir à morte dos prisioneiros, muitos deles amigos nossos", contou. A cada pessoa morta, os condenados tinham de gritar: "Em nome do povo, liquidaremos os contrarrevolucionários". Um palco era montado à beira de um rio e os corpos jogados na água.

Jamil Chade/AE: Kim-Hye-Sook e o mapa que desenhou
do campo de prisioneiros onde passou 28 anos


Cenas de humilhação eram tão constantes quanto. Os guardas ordenavam que a pessoa ficasse de joelhos e abrisse a boca. Colocavam então excrementos de animais e a faziam engolir. "Isso ocorreu comigo três vezes", contou Kim. Os prisioneiros ainda eram obrigados a recitar elogios ao Grande Líder todos os dias, cujos versos ela ainda sabe de cor. Fazia parte das aulas decorar a árvore genealógica da família que controla o poder.

A população carcerária era formada por agricultores, políticos de oposição, jornalistas e até esportistas que teriam envergonhado a nação em eventos no exterior. O isolamento em relação ao resto do mundo, total. Não havia rádio nem eletricidade.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Jornalismo da ordem

Publicado em 25/01/2012 
Por Fábia Berlatto 
Opinião 2 - Gazeta do Povo

Acompanhando a cobertura da imprensa sobre a implementação do projeto “Nova Luz” em São Paulo e o objetivo de acabar com a “Cracolândia”, lembrei-me de como foram veiculadas, aqui em Curitiba, as ações da Guarda Municipal e da Polícia Militar no ano passado no Parque Barigui tanto contra a frequência de jovens da periferia, como contra o consumo de álcool naquele local. Gostaria de refletir sobre essa espécie de jornalismo que se pratica cotidianamente.

Nós sabemos que a imprensa dispõe de um poder real que é não apenas o de veicular, mas o de impor um modo de representação do mundo social. Por isso que os jornalistas são conhecidos como formadores de opinião. E isso se dá, em grande medida, porque a imprensa é portadora de um discurso autorizado, e por isso legítimo, sobre a realidade social. Então, mais do que produzir e difundir “informação”, a imprensa contribui para que se desenvolva uma visão de mundo que reflete a forma mais comum de representar esse mundo. É por isso que ela acaba, na maioria das vezes, reforçando o senso comum.

Apesar do discurso da neutralidade, da objetividade, da função apenas informativa ou por vezes crítica, os enunciados da imprensa – sejam as reportagens, sejam as análises – devem ser tomados como uma versão negociada dos fatos.

A realidade social que o noticiário apresenta representa uma duplicação, um reforço e uma confirmação da legitimidade de um modelo de sociedade e, no caso dos eventos que citei, de uma política de segurança pública que nós adotamos.

Sobre quem sempre recai o rótulo, que acaba se transformando em identidade, de perigoso, de intratável, de indesejável? Esses estereótipos acabam encobrindo a realidade, encobrindo o que gera, por exemplo, o elevado consumo de álcool, ou de crack, as agressões aos guardas municipais, aos policiais e destes contra os jovens que se encontram em situações que nem lhes caberia lidar.

É como se existisse uma categoria social de frequentadores dos espaços públicos – os manos, os vileiros (no caso de Curitiba) – que fosse constituída por uma espécie de inimigos não integráveis à sociedade. Eles não deveriam estar nos nossos parques, nos nossos shoppings, mas em outro lugar. De preferência, longe dos nossos olhos. No caso do Bairro da Luz, trata-se de recuperar áreas degradadas, de combater o consumo e o tráfico de drogas através da mera “dispersão” ou eliminação dos indesejáveis.

Essa visão do mundo social que a imprensa repercute influencia o comportamento dos cidadãos e dita as políticas de governo. E essas políticas têm privilegiado o reforço do controle social pelo viés policial. Então, há uma circularidade entre o que dizem os diversos veículos e o que diz o Estado através dos seus porta-vozes autorizados. Recuperem e reparem, no caso do Parque Barigui, o que disseram os guardas municipais, o secretário de Defesa Social, por exemplo, e o que disseram os jornalistas. Os parques, os locais públicos são lugares de acesso das famílias apenas, das pessoas “de bem”.

Os jornalistas acabam trabalhando muitas vezes como agentes do campo estatal tanto pelas questões que eles colocam, quanto pelas que deixam de colocar. Essa coisa da “boa sociedade” e da “má sociedade”, “de gente de bem”, de “gente de família”, de “gente bem-intencionada”, de “gente mal-intencionada” é exatamente o que a população quer ouvir. Não são assim os programas “jornalísticos” de tevê no fim das tardes? É essa percepção sobre como o mundo social estaria dividido e organizado que acaba, no fim das contas, gerando um tipo de demanda por segurança pública.

Essa circularidade entre os discursos do senso comum da imprensa e dos governos se deve aos próprios mecanismos de funcionamento da profissão jornalística, cuja lógica de concorrência restringe, entre outras coisas, o tempo, mas principalmente as fontes de informação.

Assim é que se constitui uma espécie de impregnação mútua de representações sobre o mundo social que circulam, de forma viciada, entre o campo político/burocrático e o campo jornalístico, na medida em que os operadores de um e de outro se constituem em fontes de consulta recíproca. E, em geral, os “especialistas” acionados só são escolhidos na medida exata em que confirmem essa percepção.

Para entender os processos sociais em que os “indesejáveis” se envolvem, é preciso recorrer sim à forma como eles expressam seus comportamentos, os seus gostos, as suas esperanças e desesperanças. Só que não podemos deixar de lado as condições sociais e políticas que determinam as características peculiares dos seus comportamentos.

Fábia Berlatto, mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná, integra o CESPDH – Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR.

Veja o comentário do jornalista Ricardo Boechat sobre os eventos que estão ocorrendo no Bairro da Luz, São Paulo

http://www.youtube.com/watch?v=mghmTSVEyrM


A lepra! A lepra! Disque 190

Autor desconhecido

Por Luís Antônio Francisco de Souza

[24/01/2012] Conhecer. Classificar. Planejar. Implementar e avaliar. Tornar transparente. Verbos sempre associados às políticas públicas, em contextos de democracia e de respeito à cidadania. Políticas públicas não podem ser confundidas com a política. Uma visa o bem coletivo a outra visa a ideologia de um determinado grupo. O Estado e as políticas públicas não podem ser objeto apenas de poder, devem também ser objeto de deliberação esclarecida e responsável. E responsabilidade envolve saber lidar com situações adversas, sem colocar a comunidade em maior situação de adversidade.

Sobre a ação pública na chamada cracolândia (SP) todos estes preceitos foram desrespeitados. Primeiro preceito, não conhecemos o problema sobre o qual é necessário intervir. A cracolândia é uma historia antiga na capital e não é exclusiva dela. Apela mais para a ineficácia da gestão pública da cidade e da saúde do que qualquer coisa. Interesses imobiliários, descaso da administração em relação à gestão urbana do centro histórico, envolvimento do crime, situação de fragilidade familiar e social, ausência de política de ocupação e regularização da cidade e, sobretudo, falta de prevenção na área da saúde criaram o problema há pelo menos duas décadas.

Segundo preceito, não somos capazes de classificar o problema? Não são os “viciados” os responsáveis pelas mazelas. O problema é o uso cada vez mais extensivo e intensivo das drogas e a falta de uma política pública sobre o assunto (a despeito do fato de já conhecermos bem as conexões entre as drogas lícitas e ilícitas e sua prevalência entre os jovens). Ou somos capazes de classificar, mas usando critérios equivocados: os “viciados” são considerados parias e são postos na invisibilidade. A política é colocar o problema debaixo do tapete ou empurrar o problema para os outros. Por que o 190 se o crack é questão de saúde? Combater traficantes expulsando os consumidores contradiz qualquer senso-comum mais básico. Tráfico se combate com informação e inteligência policial. Doença deve ser prevenida e tratada.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O abandono social e o crack

Da Carta Maior



Crack é usado por miseráveis porque é barato 

A explicação é tão simples que parece óbvia, mas para o especialista Dartiu Xavier da Silveira apenas o preço define o fato de que na Cracolância se fuma o crack. A droga vicia tanto quanto qualquer outra, inclusive o álcool, e as taxas de sucesso no tratamento são as mesmas. A diferença é que, neste caso, o “ser miserável” precede o “fumar crack”. Qualquer política de combate ao uso da droga tende ao fracasso, se não for precedida de uma política social conseqüente. Silveira define o lobby da comunidade terapêutica para drogados junto ao Sistema Único de Saúde (SUS) como “pesado”, e diz que a ação policial na Cracolândia é simplesmente “política e midiática”. A reportagem é de Maria Inês Nassif.

Maria Inês Nassif

São Paulo - O grande equívoco da ação policial do governo do Estado de São Paulo e da prefeitura da capital na chamada Cracolândia, o perímetro onde se aglomeram moradores de rua e dependentes de crack na cidade, definiu, de cara, o fracasso da operação: o poder público partiu do princípio de que a droga colocou aqueles usuários em situação de miséria, quando na verdade foi a miséria que os levou à droga. Esse erro de avaliação, segundo o psiquiatra e professor Dartiu Xavier da Silveira, por si só já desqualifica a ação policial. 

sor do Departamento de Psiquiatria e coordenador do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (PROAD), Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, Silveira há 25 anos orienta pesquisas com usuários de drogas e moradores de rua, normalmente patrocinadas pela Organização das Nações Unidas, e tem sido consultor do Ministério da Saúde na definição do Plano de Combate ao Crack. Nas horas vagas, ele desmistifica os argumentos usados pela prefeitura, município e uma parcela de psiquiatras sobre usuários de drogas. 

A primeira contestação é essa: o abandono social vem antes, o crack vem depois. E a política social tem que preceder qualquer ação junto a essa comunidade, inclusive a médica. 

Outras desmistificações vêm a tiracolo. O crack é droga pesada, concorda ele, mas o dependente da droga tem as mesmas chances de cair no vício do que um usuário de álcool, por exemplo. “Em qualquer droga existem os usuários ocasionais e os dependentes”, diz o médico. Inclusive no caso do crack. O tratamento por internação compulsória de qualquer uma – álcool, cocaína etc – situa-se na ordem de 2%, ou seja, 98% dos usuários internados compulsoriamente, inclusive os de crack, não conseguem manter abstinência. O tratamento ambulatorial garante a maior taxa de sucesso, de 35% a 40% dos usuários tratados. Isso também vale para os usuários de crack. 

Daí, outra mistificação é derrubada pelo médico: não se joga simplesmente fora os outros 60% a 65% que não vão conseguir se manter abstinentes. Do ponto de vista da saúde pública, é um ganho se o usuário se beneficiar de uma política de redução dos riscos. “O usuário não vai parar, mas pode reduzir o uso e até estudar ou trabalhar”, afirma. Isso vale também para o viciado em crack. 

Por que o crack e não outra droga? Porque a população miserável só pode comprar o crack. Existem usuários de classe média, concorda Silveira, mas crack, pobreza e população em situação de rua são situações que convergem. “A gente sempre tem essa noção de que a rua é um espaço horrível, e é mesmo, mas em muitos casos a situação da família é tão agressiva que é um alivio para a criança estar fora de casa.”

Com todas essas evidências de que o problema da Cracolândia é fundamentalmente social, Silveira apenas consegue atribuir ações policiais na área e a defesa instransigente que políticos e profissionais de saúde fazem da internação compulsória como ligadas a “causas menos nobres”. Que envolvem também interesses econômicos de alguns médicos.

Manifesto contra a política restritiva do governo brasileiro pela entrada dos imigrantes haitianos no Brasil

Manifesto em defesa dos direitos humanos de imigrantes haitianos


São Paulo, 16 de janeiro de 2012


As organizações nacionais e internacionais de apoio às migrações e grupos de pesquisa e estudo sobre as migrações sediados em diferentes universidades brasileiras têm acompanhado com apreensão a realidade enfrentada pelos imigrantes haitianos na fronteira da região norte do Brasil assim como a cobertura dada a essa realidade pela mídia brasileira e internacional.  Alinhados com a necessidade de um tratamento dessa nova realidade como uma questão de direitos humanos, assim como de todos os novos fluxos migratórios que começam a se intensificar na região e no Brasil, sugerimos ao governo brasileiro que veja nesse momento a oportunidade de tornar concreta para o país e para o mundo a postura humanitária que vem demarcando o discurso e as ações governamentais no exterior em questões que envolvem relações internacionais e que tem contribuído para outorgar ao Brasil reconhecimento político e econômico no contexto internacional.

Nesse sentido, sugerimos os seguintes encaminhamentos:

1. Informar e esclarecer adequadamente a opinião pública sobre o conjunto de fatores que estão gerando a migração de haitianos, dentre os quais, de que esses fluxos migratórios não decorrem apenas dos terremotos, mas de um contexto de crise interna, tanto econômica como política, do Haiti; de que os haitianos estão deixando seu país e imigrando ao Brasil pela urgência de sobreviver; dos motivos pelos quais o governo brasileiro está concedendo vistos humanitários e não a condição de refugiados aos haitianos, etc.

2. Estimular a sociedade brasileira, através de campanhas públicas, a se engajar em ações solidárias com os imigrantes haitianos em território brasileiro, a exemplo do que já se evidenciou no amplo apoio dado pelos brasileiros ao povo haitiano após o último terremoto ou em outras tragédias e catástrofes que atingiram populações de outros países. Essas ações poderiam ser articuladas pelo governo em parceria com organizações de apoio às migrações e abranger as demandas dos imigrantes haitianos relacionadas à alimentação, emprego, moradia, atendimento médico, psicológico, jurídico, educativo, etc.

3. Sensibilizar profissionais da mídia brasileira para evitar a criação de um clima de alarme e criminalização da migração de haitianos, evitando o uso de imagens sensacionalistas e de termos como “invasão”, “ilegalidade”, etc., conforme vem se observando em muitos materiais informativos e reportagens veiculadas sobre o assunto.

4. Rechaçar políticas restritivas e xenofóbicas que proíbam ou limitem fortemente a entrada de migrantes haitianos e gerem um clima propício à violência, à proliferação das máfias e à exploração dos trabalhadores. Analisando detidamente o exemplo de outros países que adotaram este tipo de políticas, percebe-se que não apenas o fluxo de migrantes persistiu (e em alguns casos aumentou, porque as causas da migração não são enfrentadas), como a restrição ocasionou fenômenos lamentáveis como a formação de campos de migrantes próximos às fronteiras em condições de vida indigna; a conversão do tema da migração em tema securitário e objeto de política interna suscetível à exploração assistencialista ou populista.  Essas restrições provocaram a criminalização dos movimentos migratórios, colaborando, ainda, para tipificar o “delito de solidariedade”, ou seja, tornar crime a ajuda ao migrante sem documentos.

5. Trabalhar em parceria com governo de países sul-americanos, com governos dos estados brasileiros e com organizações de apoio às migrações para o planejamento e efetivação de programas de acolhida e inserção dos novos imigrantes haitianos em diferentes estados e cidades sul-americanas e brasileiras.

6. Construir junto aos países de trânsito um projeto de atuação conjunta envolvendo os diferentes atores governamentais e não governamentais de modo a garantir uma migração segura. A negligência frente à repressão e à violência devem ser denunciadas e veementes rechaçadas.

7. Trabalhar em conjunto com o governo do Haiti e com organismos internacionais orientados à migração para coibir a atuação de “coiotes” nos movimentos migratórios de haitianos no Brasil e a propaganda sobre as vantagens econômicas e oportunidades de trabalho no país, especialmente relacionadas à realização da Copa do Mundo.

8. Pautar a política externa do governo brasileiro em relação ao Haiti pelo direito fundamental de respeito à soberania e autodeterminação do povo haitiano, reconhecendo a sua capacidade e defendendo a restituição da dívida histórica, social, ecológica e financeira necessária para a vida e dignidade da população do Haiti. Considerar, nesse sentido, as referências históricas do Haiti como uma nação precursora e benfeitora das lutas antiescravistas e anticoloniais em toda a região, renomado pela criatividade de seus artistas e pela força organizativa de seu povo, que, ao longo da historia, vem suportando enormes depredações e calamidades e ao mesmo tempo demonstrando disposição para uma luta permanente e solidária na construção de alternativas frente às injustiças e adversidades.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Diáspora na Cracolândia é filha da especulação imobiliária







Foto: Rafael Sampaio/G1
Quem não vive na capital paulista e vê as notícias sobre a revoada de almas esquecidas que ainda resistem nos bairros de Campos Elíseos e Luz, onde a Caixa de Pandora da Cracolândia paulistana vem sendo aberta após décadas de descaso, talvez não entenda por que os governos do Estado e da cidade de São Paulo adotaram medida tão impressionantemente desastrada.


A ação que espalhou pela maior cidade sul-americana uma legião de verdadeiros mortos-vivos vai formando mini guetos na porta de cada um dos que acharam que poderiam deixar aquele desastre social crescer sem jamais serem afetados.


A diáspora de viciados que as forças policiais sob comando do governador e do prefeito de São Paulo provocaram gerou o que a imprensa vem chamando de “procissão do crack”. Como a operação se limitou a espantar aquelas pessoas da Cracolândia, a PM está tendo que escoltar pelas ruas da cidade grupos de até cem pessoas cada.


As regiões que estão recebendo aqueles que vão sendo tratados como dejetos humanos, reclamam. Segundo o jornal Estado de São Paulo, moradora da outra cidade, do outro país, do outro mundo contíguo ao gueto da loucura reclamou de que “Antes, eles ficavam escondidos. Agora, ninguém tem sossego” E pediu que as autoridades encontrem “algum lugar para levá-los”.


Eis o que acontece com São Paulo. Essa é a mentalidade de uma parcela enorme da sociedade paulista. Os favorecidos pela sorte querem simplesmente ignorar os dramas sociais que uma governança voltada exclusivamente para os mais ricos gerou.


Agora, essa parcela majoritária dos paulistas que mantém há quase vinte anos no controle do Estado e da capital políticos como José Serra, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab vão percebendo que se deixam seus concidadãos se transformarem nos seres apavorantes que as imagens da Cracolândia mostram, poderão ter que recebê-los a domicílio em algum momento.


Os setores da sociedade paulistana que apoiaram que as autoridades locais deixassem o inferno florescer naquela parte da cidade já estão se perguntando sobre o propósito de uma ação policial que invade um gueto como a Cracolândia somente para espantar dali pessoas com graves problemas mentais que tendem a cometer roubos e até atos de violência sem pensar duas vezes.


Aqueles que trataram a política paulista e paulistana como disputa de futebol entre palmeirenses e corintianos, ao começarem a sentir o que a irresponsabilidade social pode gerar talvez tenham interesse em entender por que os governos estadual e municipal parecem apenas querer tirar daquela região aqueles que ameaçam a si e a todos.
Se quem nunca quis entender agora quiser, eu conto: é a especulação imobiliária, estúpido. O Bairro da Nova Luz é a nova negociata que esse grupo político que seqüestrou São Paulo está preparando.

Fonte: http://www.fas-sp.org (Acesso em: 11 de janeiro de 2012)


Contada através de depoimentos de três pessoas envolvidas em sua resistência, este documentário pretende dar voz àqueles que lutam pelo direito à cidade.
Obrigada Paula, Simone e Raquel, por nos fazer ver a luz.


Clique aqui para assistir o documentário