sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Pobres que trabalham e estudam têm jornada superior à dos operários no séc. XIX

O economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), classificou ontem à noite em Curitiba como “heróis” os brasileiros de famílias pobres capazes de conciliar o trabalho com o estudo. “No Brasil, dificilmente um filho de rico começa a trabalhar antes de terminar a graduação ou, em alguns casos, até mesmo a pós-graduação”, observou Pochmann. “Os brasileiros pobres que estudam e trabalham são verdadeiros heróis. Submetem-se a uma jornada de até 16 horas diárias, oito de trabalho, quatro de estudo e outras quatro de deslocamento. Isso é mais do que os operários no século XIX.”

Elites controlam o sistema judicial

Tese conclui que elites jurídicas provêm das mesmas famílias,
universidades e classe social
 
Há, no sistema jurídico nacional, uma política entre
grupos de juristas influentes para formar alianças e disputar espaço,
cargos ou poder dentro da administração do sistema. Esta é a conclusão
de um estudo do cientista político Frederico Normanha Ribeiro de
Almeida sobre o judiciário brasileiro. O trabalho é considerado
inovador porque constata um jogo político "difícil de entender em uma
área em que as pessoas não são eleitas e, sim, sobem na carreira, a
princípio, por mérito".

Para sua tese de doutorado A nobreza togada: as elites jurídicas e a
política da Justiça no Brasil, orientada pela professora Maria Tereza
Aina Sadek, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da USP, Almeida fez entrevistas, analisou currículos e
biografias e fez uma análise documental da Reforma do Judiciário,
avaliando as elites institucionais, profissionais e intelectuais.

Segundo ele, as elites institucionais são compostas por juristas que
ocupam cargos chave das instituições da administração da Justiça
estatal, como o Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de
Justiça, tribunais estaduais, Ministério Público, Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) e Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Já as elites profissionais são caracterizadas por lideranças
corporativas dos grupos de profissionais do Direito que atuam na
administração da Justiça estatal, como a Associação dos Magistrados
Brasileiros, OAB e a Confederação Nacional do Ministério Público.

O último grupo, das elites intelectuais, é formado por especialistas
em temas relacionados à administração da Justiça estatal. Este grupo,
apesar de não possuir uma posição formal de poder, tem influência nas
discussões sobre o setor e em reformas políticas, como no caso dos
especialistas em direito público e em direito processual.

No estudo, verificou-se que as três elites políticas identificadas têm
em comum a origem social, as universidades e as trajetórias
profissionais. Segundo Almeida, "todos os juristas que formam esses
três grupos provêm da elite ou da classe média em ascensão e de
faculdades de Direito tradicionais, como o Faculdade de Direito (FD)
da USP, a Universidade Federal de Pernambuco e, em segundo plano, as
Pontifícias Universidades Católicas (PUC's) e as Universidades
Federais e Estaduais da década de 60".

Em relação às trajetórias profissionais dos juristas que pertencem a
essa elite, Almeida aponta que a maioria já exerceu a advocacia, o que
revela que a passagem por essa etapa "tende a ser mais relevante do
que a magistratura". Exemplo disso é a maior parte dos ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF), indicados pelo Presidente da
República, ser ou ter exercido advocacia em algum momento de sua
carreira.

O cientista político também aponta que apesar de a carreira de um
jurista ser definida com base no mérito, ou seja, via concursos, há um
série de elementos que influenciam os resultados desta forma de
avaliação. Segundo ele, critérios como porte e oratória favorecem
indivíduos provenientes da classe média e da elite socioeconômica,
enquanto a militância estudantil e a presença em nichos de poder são
fatores diretamente ligados às relações construídas nas faculdades.

No caso dos Tribunais Superiores, não há concursos. É exigido como
requisito de seleção "notório saber jurídico", o que, em outras
palavras, significa ter cursado as mesmas faculdades tradicionais que
as atuais elites políticas do Judiciário cursaram", afirma o
pesquisador.

Por fim, outro fator relevante constatado no levantamento é o que
Almeida chama de "dinastias jurídicas". Isto é, famílias presentes por
várias gerações no cenário jurídico. "Notamos que o peso do sobrenome
de famílias de juristas é outro fator que conta na escolha de um
cargo-chave do STJ, por exemplo. Fatores como estes demonstram a
existência de uma disputa política pelo controle da administração do
sistema Judiciário brasileiro", conclui Almeida.

Com informações da Agência USP

domingo, 30 de outubro de 2011

Como e porquê o trânsito enlouquece no Brasil (3º Ano)

Com Roberto DaMatta - Parte 1


A exposição do assunto começa mesmo lá pelo décimo minuto. Antes, ele faz uns comentários iniciais que não deixam de ser interessantes, mas que podem ser pulados.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ipea aponta manipulação em índice de criminalidade no RJ


Morte de um Soldado Legalista, de Robert Capa, em 1936

Pesquisa apontou indícios de manipulação nas estatísticas oficiais de criminalidade do Rio de Janeiro que mostraram suposta queda no número de homicídios

Uma pesquisa do economista Daniel Cerqueira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontou indícios de manipulação nas estatísticas oficiais de criminalidade doRio de Janeiro que mostraram suposta queda no número de homicídios no Estado desde o início do primeiro governo Sérgio Cabral (PMDB).

Os números oficiais apontam diminuição de 28,7% nos assassinatos entre 2007 a 2009, mas o estudo de Cerqueira, doutor em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ) mostra que o Estado pode ter ocultado do número total as mortes com causa externa indeterminada, nas quais o motivo não é definido entre homicídio, suicídio e acidente. Os óbitos externos sem motivação determinada passaram de 1.857, no período de 2000 a 2006, para 4.021 entre 2007 e 2009.

O estudo mostra que o perfil das vítimas do homicídio é bem diferente dos mortos em acidentes e suicidas. Os assassinados são jovens com cerca de 20 anos, pretos ou pardos, estudaram no máximo até o ensino fundamental e 80% são mortos por armas de fogo na rua. Já o suicida típico é branco, tem em torno de 45 anos e morre enforcado em casa. Vítimas de acidentes violentos são comumente idosos, entre 70 a 80 anos, com pouca escolaridade. Na maioria das mortes catalogadas como "causa indeterminada" no Rio a vítima é jovem, estava na rua e foi morta a tiros - perfil típico da vítima de assassinato - o que pode ser indício da manipulação.

O número de mortes indeterminadas, cujas vítimas foram vítimas de Perfuração de Arma de Fogo (PAF) cresceu 263% nos últimos três anos no Estado. Apenas em 2009, 2.797 pessoas morreram sem que o Instituto Médico-Legal sequer apontasse a causa. A pesquisa de Cerqueira, "Mortes violentas não esclarecidas e impunidade do Rio de Janeiro" foi divulgada no site do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Inconsistências nas estatísticas de mortes por causas externas não determinadas no Rio já tinham sido apontadas pelo jornal O Estado de S.Paulo em sua edição de 7 de junho.

Responsável pela divulgação dos índices de criminalidade no Rio, o Instituto de Segurança Pública (ISP) não se manifestou sobre o assunto. O órgão é dirigido por oficiais da Polícia Militar desde 2008, quando a ex-diretora, a antropóloga Ana Paula Miranda foi demitida após recorde de pessoas mortas pela polícia nos autos de resistência (suposto confronto entre agentes e criminosos). Na ocasião, ela acusou a Secretaria de Segurança Pública do Rio de "fabricar a queda de homicídios".

Desde março, após o Ministério da Saúde cobrar explicações, a Secretaria de Saúde e o ISP formaram um convênio para esclarecer os casos de morte de "intenção indeterminada". No entanto, nenhum resultado foi divulgado até o momento. A Polícia Civil do Rio informou que se pronunciará apenas amanhã sobre o estudo. O Ministério da Saúde apenas informou que não recebeu a pesquisa e que a responsabilidade sobre o preenchimento dos registros é dos Estados.

Fonte: Agencia Estado - 23/10/2011

Indicação de Site de onde se pode baixar a pesquisa: 

http://www2.forumseguranca.org.br/content/mortes-violentas-n%C3%A3o-esclarecidas-no-rio-de-janeiro

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

As virgens juramentadas: mulheres com voto de virgindade vivem como homens

Pashe Keqi recorda-se do dia, quase sessenta anos atrás, em que decidiu transformar-se em um homem. Ela cortou os seus longos cachos de cabelos negros, trocou o vestido pelas calças largas do pai, armou-se de um rifle de caça e jurou que jamais se casaria, teria filhos ou faria sexo. Esta mulher de 78 anos que fez voto de virgindade em troca do direto de viver e liderar a sua família como um homem diz que, caso tivesse nascido na Albânia de hoje, escolheria ser mulher.

Pashe Keqi - FOTO: Johan Spanner, New York Times


"Naquela época, era melhor ser homem porque, antes, as mulheres e os animais eram considerados uma coisa só", diz Keqi, que tem uma voz forte de barítono, senta-se com as pernas abertas como um homem e gosta de tomar tragos de raki e de fumar cigarros. "Agora as mulheres albanesas têm direitos iguais aos dos homens e são até mais poderosas. Acho que atualmente seria divertido ser mulher".

Essas virgens juramentadas tornaram-se patriarcas das suas famílias, com todas as prerrogativas da autoridade masculina, ao fazerem voto permanente de virgindade.O ritual era uma forma de conquista de poder pessoal para as mulheres da zona rural de uma região terrivelmente pobre e regida por valores machistas, que ficou isolada do resto da Europa durante décadas, sob uma ditadura stalinista. Mas na Albânia contemporânea, com paqueras pela Internet e a MTV, esse costume está desaparecendo. As meninas não querem mais ser meninos.

A tradição das virgens juramentadas remonta ao Kanun de Leke Kukagjini, um código de conduta que foi passado verbalmente entre os clãs do norte da Albânia durante mais de cinco séculos. Segundo o Kanun, o papel das mulheres era severamente restrito. Elas tomavam conta das crianças e do lar. Embora a vida de uma mulher valesse a metade da vida de um homem, a de uma virgem tinha o mesmo valor que a deste último -12 bois. A virgem juramentada foi um fruto da necessidade social em uma região agrária flagelada pela guerra e pela morte. Caso o patriarca da família morresse sem deixar herdeiros masculinos, as mulheres casadas da família poderiam ver-se sozinhas e sem poder algum. Ao fazer um voto de virgindade, as mulheres podiam assumir o papel masculino como chefes de família, portar armas, ser proprietárias e locomover-se livremente.

Pashe Keqi - FOTO: Johan Spanner, New York Times

Pashe Keqi - FOTO: Johan Spanner, New York Times
Elas vestem-se como homens, adotam uma postura masculina e passam a vida na companhia de outros homens.Algumas também fizeram o voto como forma de evitar os casamentos arranjados. E outras tornaram-se virgens juramentadas para expressar a sua autonomia. Algumas arrependeram-se do sacrifício, voltaram a ser mulheres e, mais tarde, casaram-se.

"Renunciar à sexualidade ao jurar permanecer virgem era uma forma encontrada por essas mulheres para engajar-se na vida pública em uma sociedade segregada e dominada pelos homens", afirma Linda Gusia, professora de estudos da mulher da Universidade de Pristina, em Kosovo.

"Tratava-se de sobreviver em um mundo no qual os homens mandavam".

Segundo os sociólogos, o fato de uma pessoa fazer um voto de virgindade não quer dizer que ela seja homossexual, algo que há muito tempo é um tabu na Albânia rural. E as mulheres tampouco passam por mudança de sexo. Na zona rural do norte da Albânia, restam ainda cerca de 40 virgens juramentadas, segundo os pesquisadores que estudam esse costume. Conhecida em casa como "Pasha", Keqi conta que decidiu tornar-se o homem da casa aos 20 anos, quando o seu pai foi assassinado durante uma briga. Os seus quatro irmãos opuseram-se ao regime comunista de Enver Hoxha, que governou a Albânia durante 40 anos, até a sua morte em 1985, e foram ou presos ou mortos. Ela diz que tornar-se homem foi a única forma que encontrou de sustentar a mãe, as quatro cunhadas e os cinco sobrinhos.

Reinando sobre a grande família na sua casa modesta em Tirana, onde as sobrinhas lhe servem brandy enquanto ela grita ordens, Keqi diz que viver como homem lhe permitiu ter a liberdade negada a outras mulheres. Ela podia trabalhar na construção civil e rezar na mesquita ao lado dos homens. Mesmo hoje, os seus sobrinhos dizem que não ousariam casar-se sem a permissão do "tio".

Pashe Keqi - FOTO: Johan Spanner, New York Times
"Como homem eu tinha total liberdade porque ninguém sabia que eu era mulher", diz Keqi. "Eu podia ir aonde bem entendesse e ninguém ousava me xingar porque tomaria uma surra. Eu só convivia com homens. Não sei como as mulheres falam. Nunca sinto medo". Ela recorda-se de que, quando foi recentemente hospitalizada para passar por uma cirurgia, as outras mulheres no quarto ficaram horrorizadas ao descobrir que compartilhavam o aposento com um homem, e pediram transferência para um outro quarto.
Keqi afirma que o fato de ser mulher fez dela um homem mais compassivo.

"Quando outros homens desrespeitavam uma mulher, eu dizia a eles que parassem". Ela diz que o fato de ter sido privada de uma vida de intimidade sexual foi um sacrifício necessário. Ela acrescenta que não sente falta de filhos, porque sempre esteve rodeada de sobrinhas e sobrinhos. "Quando a minha convicção chegou a 100%, tive forças para jamais retroceder".

Ser o homem da casa também a tornou responsável por vingar a morte do pai, conta ela, citando o edital de Kanun que preconiza que o sangue derramado deve ser respondido com sangue derramado. Quando o assassino do seu pai foi libertado da prisão cinco anos atrás, com 80 anos de idade, ela ordenou ao seu sobrinho de 15 anos que o matasse a tiros. A seguir, a família do homem vingou-se, matando o sobrinho dela.

"Sempre sonhei em vingar a morte do meu pai. Os meus irmãos tentaram, mas não conseguiram. É claro, lamentei o fato de o meu sobrinho ter sido assassinado. Mas se você me mata, eu tenho que matá-lo". Na Albânia, um país majoritariamente muçulmano, o Kanun é seguido tanto por muçulmanos quanto por cristãos, embora os turcos otomanos e os sucessivos governos tenham tentado limitar a sua influência.
Os pesquisadores da história albanesa dizem que o apego a costumes medievais há muito descartados em outros locais foi um subproduto do isolamento do país. Mas eles frisam que hoje em dia o papel tradicional da mulher albanesa está mudando.

"Atualmente a mulher albanesa é uma espécie de ministra da Economia, ministra do Afeto e ministra do Interior que controla quem faz o que", diz Ilir Yzeiri, um crítico que escreve sobre o folclore albanês. "Hoje em dia as mulheres albanesas participam de tudo".
Algumas virgens juramentadas criticam essa liberação feminina. Diana Rapiki, 54, guarda de segurança na cidade litorânea de Durres, no oeste da Albânia, que fez voto de virgindade para tomar conta das nove irmãs, diz que tem saudade da era Hoxha. Durante a era comunista, ela foi oficial graduada do exército, treinando soldados mulheres para combate.

"Agora as mulheres não sabem mais o seu lugar", lamenta ela.

"Hoje em dia as mulheres vão às discotecas semi-nuas e não conhecem limites", afirma Rakipi, que cortou os cabelos bem curtos e usa uma boina militar. "Durante a minha vida toda fui tratada como homem, sempre com respeito. Não sei limpar uma casa, passar roupa e nem cozinhar. Isso é trabalho de mulher".
Mas até mesmo nas remotas montanhas de Kruje, cerca de 50 quilômetros ao norte de Tirana, onde as estradas de terra serpenteiam entre olivais, os moradores locais dizem que a influência do Kanun sobre os papéis dos sexos está desaparecendo. Eles afirmam que a erosão da família tradicional, na qual todos vivem sob o mesmo teto, alterou a posição das mulheres na sociedade.
"Atualmente as mulheres e os homens são quase iguais", diz Caca Fiqiri, cuja tia, Qamile Stema, 88, é a última virgem juramentada da vila. "Nós respeitamos bastante as virgens juramentadas e as consideramos homens devido ao grande sacrifício que fizeram. Mas não existe mais nenhum estigma devido ao fato de não haver um homem na casa".

Pashe Keqi - FOTO: Johan Spanner, New York Times
Mas não há dúvida quanto a quem usa as calças na casa da família, de pedra e com um só aposento, em Barganesh, a vila ancestral de Fiqiri. Lá, recentemente, o "tio" Qamile foi rodeado pelo seu clã, usando um qeleshe, o chapéu branco tradicional dos homens albaneses. A sua única concessão à feminilidade eram sandálias de dedo cor-de-rosa. Apontando para uma antiga foto preto e branco pendurada sobre à entrada da casa -mostrando um belo rapaz- Stema diz que fez o voto de virgindade aos 20 anos, depois que o pai morreu, e que era a mais velha de nove irmãs.

Após tornar-se homem, Stema diz que pôde sair de casa e rachar lenha com os outros homens. Ela portava uma arma. Nos casamentos, sentava-se com os homens. Ela lembra-se de que quando falava com as mulheres, estas recuavam envergonhadas. Stema diz que o voto de virgindade foi uma necessidade e um sacrifício.

Rakipi - FOTO: Johan Spanner, New York Times
"A verdade é que às vezes sinto-me solitária. Todas as minhas irmãs morreram, e eu vivo sozinha. Mas eu nunca quis me casar. Certas pessoas em minha família tentaram fazer com que eu trocasse de roupa e usasse vestidos, mas quando viram que eu havia me tornado homem, me deixaram em paz". Stema diz que morrerá virgem. Ela brinca, dizendo que, caso tivesse se casado, teria sido com uma mulher albanesa tradicional. "Creio que pode-se dizer que eu sou meio mulher, meio homem, mas é claro que nunca fiz tudo que um homem faz", diz ela. "Gostei da minha vida como homem.

Fonte: International Herald Tribune


quarta-feira, 6 de julho de 2011

ONU aprova resolução histórica sobre direitos dos homossexuais

O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou nesta sexta-feira, após um intenso debate e uma votação apertada, uma resolução histórica destinada a promover a igualdade dos indivíduos sem distinção da orientação sexual, apesar da oposição dos países árabes e africanos.

A resolução, muito aplaudida, recebeu 23 votos favoráveis, 19 contrários e três abstenções.

O texto, apresentado pela África do Sul, qualificado de "histórico" por Organizações Não Governamentais que defendem os direitos dos homossexuais, provocou um intenso debate entre o grupo de países africanos presidido pela Nigéria, contrário à resolução, que acusou o governo de sul-africano de alinhamento com os países ocidentais.

Ao apresentar o texto, o representante da África do Sul, Jerry Matthews Matjila, declarou que "ninguém deve ser submetido a discriminação ou violência por causa da orientação sexual".

Esta resolução, completou, "não busca impor certos valores aos países, e sim iniciar o diálogo" sobre o tema.

jogo do bloco



o jogo está aqui. clique

25 gangues apavoram gays e negros nas ruas da cidade

Polícia Civil de São Paulo identifica 200 integrantes de grupos extremistas. Skinheads entre 16 e 28 anos são investigados por "crimes de ódio" que deram origem a 130 inquéritos policiais.

Eles são jovens, com idades entre 16 e 28 anos. Têm ensino fundamental e médio. Pertencem, em sua maioria, às classes C e D. Usam coturnos com biqueiras de aço ou tênis de cano alto, jeans e camisetas. São brancos e pardos -negros, não. Cultuam Hitler, suásticas e o número
88. A oitava letra do alfabeto é o H; HH dá "Heil, Hitler", a saudação dos nazistas. Consomem baldes de álcool. As outras drogas têm apenas uso marginal. Ostentam tatuagens enormes em que se leem "Ódio", "Hate", ou "Ame odiar". A propósito, odeiam gays e negros. São de
direita. Gostam de bater, bater e bater. E de brigar.

O perfil dessa turma, auto-denominada skinheads por influência do movimento surgido na Inglaterra durante os anos 1960, quem traçou foi a Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), da Polícia Civil do Estado de São Paulo. No total, a Decradi já identificou 200 membros de 25 gangues com nomes como Combate RAC (Rock Against Communism- rock contra o comunismo, em português) e Front 88 (sempre o 88).

São integrantes desses grupos que aparecem com mais frequência como agressores de negros, gays e em pancadarias entre torcidas organizadas, quando encarnam a faceta "hooligan". Também a exemplo do que ocorre na Europa, skinheads são especialistas
em quebra-quebra entre torcedores.

terça-feira, 24 de maio de 2011

polêmica: norma culta e norma popular

Students in mess hall at Culver Military Academy holding arms crossed in front of them until "Rest" is ordered.
Location: Culver, IN, US
Date taken: 1939
Photographer: Alfred Eisenstaedt
Na grande mídia argumentou-se que o livro “ensina a falar errado”. O livro é utilizado no programa “Educação de Jovens e Adultos” e foi submetido a avaliação do Ministério da Educação.

Diante da grande repercussão, a Ação Educativa, responsável pedagógica do livro, publicou uma nota de esclarecimentos na qual afirma defender “a abordagem da obra por considerar que cabe à escola ensinar regras, mas sua função mais nobre é disseminar conhecimentos científicos e senso crítico para que as pessoas possam saber por que e quando usá-las”. O documento complementa que “polêmicas como essa ocupam a imprensa desde que o Modernismo brasileiro, em 1922, incorporou a linguagem popular à literatura. Felizmente, desde então, o país mudou bastante. Muitas pessoas tem consciência de que não se deve discriminar ninguém pela forma como fala ou pelo lugar de onde veio”.

Por Juliana Sada do blog Rodrigo Vianna: http://www.rodrigovianna.com.br/sopa-de-letras/livro-polemico-de-portugues-e-disponibilizado-para-o-publico.html

Entrevista televisiva aos escritores Marcelino Freire e Cristovão Tezza

Os escritores Marcelino Freire e Cristovão Tezza participaram nesta semana do programa "Entre aspas", apresentado por Mônica Waldvogel na GloboNews. Com bom humor, os dois escritores rechaçaram a tese da Globo (e da velha mídia), que, a partir de trechos retirados do contexto, ataca o livro "Por uma vida melhor", adotado pelo Ministério da Educação para turmas de jovens e adultos.

Artigo de uma linguista blogueira

"Por uma vida melhor": por que abolir os conceitos de “certo” e “errado”

A polêmica que se criou em torno do livro Por uma vida melhor, da coleção Viver, aprender, adotado pelo MEC, é inútil e representa um retrocesso para a Educação.

Como lingüista e professora de português defendo ardorosamente a utilização do livro. Vou explicar, mas antes faço alguns esclarecimentos:

1. A escola é o lugar por excelência da norma culta, é lá que devemos aprender a utilizá-la, isso ninguém discute, é fato.

2. O livro NÃO está propondo que o aluno escreva “nós pega” – como estão divulgando por aí - ele está apenas constatando a existência da expressão no registro “popular”. Do ponto de vista cotidiano, a expressão é válida porque dá conta de comunicar o que se propõe. E ela é mais que comum e, sejamos sinceros, é a linguagem que o leitor dessa obra usa e entende. Será que é intenção da escola se comunicar com ele de verdade? Se for, ela tem que usar um livro que consiga fazer isso. Uma gramática cheia de exemplos eruditos e termos que o aluno não consegue nem memorizar, com certeza, não vai conseguir.
3. O que o livro está propondo é trocar as noções de “certo” e “errado” por “adequado” e “inadequado”. E isso é mais que certo. Vou explicar a seguir.

4. A questão é: como ensinar a norma culta num país de tradição oral, e no qual existe um abismo entre a língua oral e a língua escrita? Como fazer isso com jovens adultos – que já apresentam um histórico de “fracasso” em seu processo formal de educação e, muito provavelmente, na aquisição dos termos da gramática e seus significados. Se esse jovem não assimilou até o momento em que procurou o EJA (Educação de Jovens e Adultos) a “concordância de número”, como o professor vai fazê-lo usar a crase? Isso para mencionar apenas um dos tópicos mais fáceis da gramática e que a maioria das pessoas, inclusive as “mais cultas e graduadas”, algumas até mesmo com doutorado, ainda não sabem explicar quando ela é necessária.

Por que abolir os conceitos de “certo” e “errado”?

Vou mencionar apenas 3 razões, para não cansar demais o leitor, mas existem muitas outras, quem se interessar pode perguntar que eu passo a bibliografia.

1. Primeiro, por uma questão de honestidade com o aluno. A língua é viva, assim como a cultura, e não pode ser dirigida, por mais que tentem. Por isso, não existe nem “certo” nem “errado”: as regras são convenções e são alteradas de tempos em tempos por um acordo entre países falantes de uma mesma língua. O que era “errado” há alguns anos, hoje pode ser “certo”. Agora é correto escrever lingüística sem trema - o que discordo - e ideia sem acento. Assim, o que existe é o “adequado à norma culta” e o “inadequado à norma culta”. E essa norma é uma convenção, não uma lei natural e imutável. Além disso, por mais que a escola seja representante da norma culta, isto não significa que ela deva ficar “surda” diante dos demais níveis de fala. A língua portuguesa – ou qualquer língua – não pode ser reduzida à sua variante padrão. Tão pouco as aulas de português devem ficar. Afinal, se numa narrativa aparece um personagem, por exemplo, pescador e analfabeto, como o aluno deverá escrever uma fala (verossímil) para ele? Escrever de forma inverossímil é certo? Aliás, o que seria dos poetas e escritores se não fosse o registro popular da língua? Acho que Guimarães Rosa nem existiria.

Com certeza a crítica ao livro parte de setores conservadores e normativos. Eu, como lingüista e professora, não apoio a retirada dos livros porque não acho justo falar para o aluno que o jeito que ele fala é errado, até porque não é, só não está de acordo com a norma culta, o que é muito diferente. Depois que você explica isso para o aluno é que ele entende o que está fazendo naquela aula. Essa troca faz toda a diferença.

2. Segundo, porque quando você diz para um aluno sucessivas vezes que o que ele fez está “errado” você passa por cima da subjetividade dele e acaba com toda a naturalidade dessa pessoa. Daí, ela não fala “certo” e também não sabe quando fala “errado”. Assim, quando na presença de pessoas que ela julga mais letradas que ela própria, não tenha dúvida, vai ficar muda. A formação da identidade do sujeito passa obrigatoriamente pela aquisição da linguagem, viver apontando os erros é desconsiderar a experiência de vida daquela pessoa, é diminuí-la porque ela não teve estudo. E não se engane: ela pode se tornar até uma profissional mais desejada pelo mercado por usar melhor a norma culta, mas não necessariamente vai se tornar uma pessoa melhor.

3. Em terceiro, porque é urgente trocar o ponto de vista normativo pelo científico. A lingüística reconhece que a língua tem seu curso e muda conforme o uso e a cultura: já foi muito errado falar (e escrever) "você", por exemplo. A lingüística também reconhece que a língua é instrumento de poder, por isso, nada mais importante do que desmistificar a gramática normativa. Isto não significa deixá-la de lado, mas precisamos exercitar uma visão mais crítica. Esse aluno sente na pele a discriminação social devido ao seu nível de fala, nada mais natural que ele rejeite a norma culta e considere pedante a pessoa que fala segundo a norma padrão. É compreensível, ainda, que ele não entenda grande parte do que se diz em sala de aula. O que não é compreensível é o professor, ou melhor, “a Escola”, não entender a razão de isso acontecer.

Em nenhum momento foi dito que a professora e autora do livro em questão não iria corrigir ou ensinar a norma culta aos alunos, só ficou validado o registro oral. Os alunos precisam entrar em contato com o distanciamento científico. E os lingüistas não saem por aí corrigindo ninguém, eles observam, e você, leitor, bem sabe como funciona a ciência - e um aluno de pelo menos 15 anos já precisa começar a ouvir falar do pensamento científico. Além disso, é muito bom que eles percebam se o nível de fala que usam tem prestígio ou não, e o porquê.

Por que ignorar o estudo da língua oral em sala de aula? Eu fazia um trabalho nesse sentido com os meus alunos e só depois de transcrever entrevistas orais eles conseguiam ouvir a si mesmos e tomar consciência de seu registro lingüístico: “nossa como eu falo gíria! Eu nem percebia!”. Aí sim eles entendem que, com o amigo, com os pais, eles podem dizer "os peixe", mas que na prova é preciso escrever "os peixes", no seminário é preciso dizer “os peixes”, mas ele precisa estar à vontade para fazer isso. A realidade em sala de aula é que os alunos não entendem onde estão errando. Quando você explica o conceito de norma culta eles entendem. Cria-se um parâmetro e não uma tábua de salvação inatingível. É aceitando o registro desse interlocutor e apresentando mais uma possibilidade de uso da língua para ele que vai surgir o esforço para aprender. Se você insistir no “certo” e no “errado” ele vai ficar com raiva e rejeitar o novo. Quer apostar?

Ter uma boa comunicação não é sinônimo de usar bem as regras da gramática. Para ensinar os conceitos de "gramática natural" e "gramática normativa" temos de dar esses exemplos. Os conservadores se arrepiam porque eles partem do princípio que você nunca pode escrever ou falar nada errado na frente do aluno. Para mim isso é hipocrisia: o aluno tem direito de saber que o registro que ele usa em casa é diferente daquele que ele usa na rua, no estádio de futebol, na escola, no trabalho, em frente ao juiz. E tem o direito de saber que o “correto” se define por aquele que tem mais prestígio social. Essas são só as primeiras noções de sociolingüística, para quem quiser abrir a cabeça e saber. Ou será que a língua portuguesa se aprende descolada da realidade? É isso que se está tentando mudar. É tão difícil assim perceber isso?

Quando me perguntam qual é a função do professor de português na escola, eu respondo: oferecer ao aluno um grau cada vez mais elevado de consciência lingüística; oferecer instrumentos para que ele possa transitar conscientemente entre os diversos níveis de linguagem. Só depois de realizada essa operação o aluno vai conseguir escrever conforme as regras da norma culta. E falar a norma padrão com naturalidade. Ou, ainda, escolher falar conforme o ambiente em que cresceu e formou a sua subjetividade (Lula que o diga, comunica-se muito bem, sem camuflar as suas origens). É bom ficar claro que a função do professor não se reduz a "corrigir" o aluno. Isso, o google, até o word, pode fazer. Ajudar o aluno a ter consciência de seu nível de fala é outra história...

O problema não é uma pessoa dizer “nós pega”, o problema é ela não entender que esse uso não é adequado em determinados contextos, o problema é não saber dizer “nós pegamos”. Ou sequer compreender porque não pode falar “nós pega”... É, leitor, tem muito aluno que não entende porque precisa aprender uma lista de nomes difíceis que nada significam para ele e que ele não enxerga a relação direta entre uso da norma culta e como esta vai ajudá-lo a melhorar de vida.

Conheço quilos, ou toneladas, de gente formada, pós-graduada, que fala “seje” e não tem consciência de que está falando assim, e ainda critica quem fala “menas”. Ouvir a si mesmo é uma das coisas mais difíceis de fazer. E como ajudar o aluno a fazer isso?

O primeiro passo é, sem dúvida, abolir o “certo” e o “errado”. Enquanto o professor for detentor da caneta vermelha, o aluno vai tremer diante dele e nada do que ele disser vai entrar na cabeça dessa pessoa preocupada em acertar uma coisa que não entende, tem vergonha de dizer que não entende, então não pergunta, faz que entendeu, erra na prova e o resultado é ela se achar cada vez mais burra e desistir de estudar. Ufa... Puxa, ninguém estuda mais psicologia da educação? Isso é básico!

E então, leitor, o que é mais honesto com esse aluno que chega no EJA com a autoestima lá em baixo? Começar falando a língua dele e depois trazê-lo para a norma padrão ou começar de cara a humilhá-lo com uma língua que ele não entende?

É muito sério quando pessoas leigas começam a emitir, levianamente, juízos de valor sobre assuntos que não dominam. Alguns jornalistas, blogueiros e “opineiros” de plantão, por exemplo, sem conhecimento dos conceitos e técnicas de ensino em lingüística, sem a menor noção do que está acontecendo nas salas de aula desse país, começam a querer dizer para os professores o que eles têm de fazer, como eles têm de ensinar! Isto sim, é nivelar por baixo! É detonar, mais ainda, a autoridade do professor, já tão desprezada no país. Ah, e ainda fazem isso sem perceber que freqüentemente cometem erros crassos; eu estou cansada de lê-los em blogs, jornais e revistas, e ouvi-los na televisão. Não que precisem, ou usamos com eles os mesmos critérios que defendem?

E então, qual é mesmo o tipo de educação que o Brasil precisa?

* Daniela Jakubaszko é bacharel em lingüística e português pela FFLCH-USP, mestre e doutora pela ECA-USP. Desistiu de ser professora depois de dar aula por 15 anos e virou redatora porque não agüentava mais ouvir: "você trabalha além de dar aulas?"

Entrevista do Fernando Haddad, ministro da Educação, ao jornalista Sardenberg.
 
Nota oficial da Abralin - Associação Brasileira de Linguística sobre o livro.
 
O capítulo do livro que causou a polêmica.
http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/V6Cap1.pdf

Debate de dois colegas meus no facebook


Gustavo Biscaia de Lacerda
Não é adequado tratar essa questão em termos de "mídia-não-mídia". Se a Abralin é a favor do livro em questão, pior para os lingüistas, que confundem "progressivismo" e inclusão social com defesa da ignorância.
samedi, à 17:06 · J’aime

Nelson Rosário de Souza
Gustavo, boa parte da mídia, especialmente a hegemônica, não costuma apresentar os temas como 'polêmicos'. Ou seja, não se propõem a fomentar o debate. Eles acreditam que sabem a verdade das coisas, tipo, ensino de língua é uma questão técnica e pronto. Então, prá desgraça deles (não de quem discorda do livro) mais uma entidade se posicionou a favor do texto, demonstrando que o tema é polêmico. Ou seja, a contragosto vão ter que aceitar que não são donos da verdade e que o tema requer debate. Não considero que eu, a Abralin, ou o texto defendem a ignorância. Apenas consideram que o uso da língua não culta na fala não deve ser motivo para sujeição ou para baixa estima do falante. E mais, é importante que as classes populares, no seu aprendizado, percebam que a língua é sim uma ferramenta política. Penso que esta percepção é um estímulo a aprendizagem da língua culta.

Gustavo Biscaia de Lacerda
Nelson: a respeito da mídia, não comento. Não me parece apropriado tratar da questão nesses termos e por isso não me estenderei a respeito (embora sua observação de que a aparência de ausência de polêmica seja uma perspectiva interessante). Em termos substantivos, no que se refere à afirmação da chamada norma culta, não me parece que se esteja pondo em questão somente que há diferentes variantes lingüísticas, nem que há diferenças - grandes, muitas vezes - entre a norma padrão e os linguajares cotidianos. O que se faz em diversos livros - e a idéia do Marcos Bagno a respeito do "preconceito lingüístico" sacramenta totalmente - é que a língua padrão é somente um instrumento de dominação e como tal deve ser tratado; em outras palavras, se os dominantes (ou a burguesia, ou qualquer variação desse tipo) afirma sua própria língua, a resistência popular deve erigir em padrão seu próprio jeito de falar. Isso, bem vistas as coisas, é uma variação dos lingüistas da idéia de um certo marxismo, denunciado há 40 anos por Foucault, de que há uma cultura burguesa e uma cultura proletária. O resultado é que a idéia do Marcos Bagno consagra a divisão social - e veja: não estou negando as diferenças e as disputas sociais -, sugere uma teoria da conspiração (não dos "de cima", mas dos "de baixo") e, por fim, faz o possível para evitar totalmente a inclusão social (afinal, qual dos "praticantes das variações não-cultas da língua portuguesa" conseguirá expressar-se adequadamente em outros contextos que não os seus próprios, isto é, nas regiões de origem do que tende a virar dialetos? Qual deles conseguirá ler (e entender) livros escritos em variações que não sejam as dialetais, isto é, os livros escritos de acordo com as normas "cultas"? Por fim: exceção feita ao Valmor Stédile, economista pela UFRGS e líder do MST, qual desses doutores terá coragem de efetivamente usar e defender o uso em seu próprio ambiente social dessas "variações lingüísticas"?).

Empresas ampliam a contratação de trabalhador negro

Fonte: Time Inc.
Participação sobe de 23,4% em 2003 para 31,1% em 2010, mostra pesquisa do Instituto Ethos com 500 companhias

Mas, quanto maior o nível hierárquico, menor é a presença de negros; em cargos de diretoria, são só 5,3%

"Costura, faxina..." Vanessa Santos Antônio, 20, sabe bem qual seria seu futuro se não tivesse decidido cursar faculdade. "Nasci em uma família pobre, em Brasilândia [zona norte de São Paulo], mas meu pai sempre me ensinou que o único jeito de mudar de verdade e ter um padrão de vida diferente é estudando."

Aluna do último ano de administração da Faculdade Zumbi dos Palmares, ela fez dois anos de estágio no Bradesco e foi efetivada com escriturária no departamento de recursos humanos.
Depois de se formar, pretende fazer pós-graduação e intercâmbio nos Estados Unidos para estudar inglês.

Durante a era Lula, a participação de negros como Vanessa nas empresas passou de 23,4% (2003) para 31,1% (2010), segundo pesquisa do Instituto Ethos com as 500 maiores empresas do país.

"A mão de obra negra está mais inserida no mercado de trabalho, mas ainda está bem abaixo do que deveria, considerando que eles representam 46% da PEA (população economicamente ativa)", diz Paulo Itacarambi, vice-presidente do Ethos.

Alguns fatores, diz ele, explicam esse aumento. Um é a melhoria da autoestima, que tem contribuído para aumentar o número de pessoas que se declaram negras (pretos e pardos).
Há ainda a política de cotas nas universidade, melhorando a qualificação. Por fim, vem a percepção, por parte das empresas, de que a diversidade é positiva para a organização.
Mas, apesar dos avanços, a análise da presença do negro em diferentes níveis hierárquicos evidencia uma enorme desigualdade.

Quanto maior o nível hierárquico, menos negros. Eles ocupam 25,6% dos cargos de supervisão. Estão em 13,2% dos cargos de gerência e em 5,3% dos cargos de diretoria.
"É preciso criar oportunidades para essas pessoas subirem na empresa e isso requer esforço e investimento", diz Itacarambi.

O Ethos defende que as empresas tenham metas -mas não cotas- para reduzir as desigualdades. "Empresas não funcionam com cotas. Mas, se fizerem esse investimento, rapidamente a gente equilibra isso."

ESTÁGIOS

Para chegar aonde chegou, Vanessa Antônio participou de um dos únicos programas privados dedicados à promoção do negro no mercado de trabalho no país.
Sua faculdade tem parcerias com dez empresas para a realização de estágios: Bradesco, Citibank, Itaú, Santander, Banco do Brasil, Mercedes-Benz, Ford, Dow Química, Cargill e Nestlé.

Cada uma recruta entre 20 e 40 alunos por ano. Em média, 90% são efetivados após o fim do estágio. Desde que o programa foi criado, 483 alunos fizeram ou estão fazendo estágio.
"O estágio é diferenciado. Além do trabalho, eles fazem cursos de extensão por meio de convênios com FGV, USP e Unicamp", diz Francisca Rodrigues, diretora da Zumbi dos Palmares.

A educação qualifica o negro, mas ainda é preciso vencer preconceitos. "Ainda tem muita gente de recursos humanos que contrata pela boa aparência, o que, para eles, quer dizer "branco de cabelo liso'", diz Rodrigues.

"A gente vê isso aqui. Fechamos essas parcerias com os presidentes. Mas, quando vem alguém de RH fazer a seleção, às vezes a pessoa faz perguntas estranhas. Você vê que ela não sabe nem como abordar os alunos negros."

Por Mariana Barbosa

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2205201112.htm. Acesso em: 24 de maio de 2011.

saiba como funcionam Enem e ProUni

Apesar de uma série de problemas que marcaram a prova do ano passado, 50 das 91 instituições consultadas pela Folha ainda devem utilizar de alguma maneira os resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em seus vestibulares de inverno.
Cada faculdade pode determinar como usar o exame no seu processo seletivo. Os que usam o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), por exemplo, escolhem os novos estudantes exclusivamente pela nota obtida no Enem.

O exame nacional é realizada anualmente e composta de quatro provas com 45 questões cada uma, além de uma redação.

No vestibular de meio de ano, são utilizados os resultados de 2010.

As provas do Enem 2011 devem ocorrer nos dias 22 e 23 de outubro, e as inscrições abrem amanhã, 23/5, e vão até 10/6 (veja mais em inep.gov.br/enem).

BOLSAS
O ProUni é o programa do governo federal que oferece bolsas de estudos em instituições privadas de ensino superior, e dá direito a bolsas integrais ou parciais, balizadas pelas notas no Enem e pela renda familiar do estudante. Zerar no exame, portanto, é prejuízo na certa. 

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj2205201110.htm. Acesso em 24 de maio de 2011.


tempos modernos: o filme

O ator Charles Chaplin. Fonte: Life

link para assistir ao filme tempos modernos, de charles chaplin. 

http://filmespoliticos.blogspot.com/2011/05/tempos-modernos-modern-times-charlie.html
atividade obrigatória para os alunos do 1º e 2º ano.

sobre a vida após a morte

Fonte: http://www.fotocommunity.es
Do ponto de vista científico, vida após a morte não faz sentido,embora a esperança de que ela exista seja muito compreensível
 
Já que no domingo passado escrevi sobre o fim do mundo (era para ter sido ontem), é natural continuar nossa discussão refletindo sobre vida após a morte. especialmente nesta semana, quando o famoso físico Stephen Hawking falou do assunto em entrevista ao jornal inglês "The Guardian". "Um conto de fadas para pessoas que têm medo do escuro", disse.
Mantendo a discussão ao nível "científico", o que podemos falar sobre experimentos que visam detectar vida após a morte?

Eis o que escrevi sobre o tópico em meu livro "Criação Imperfeita": "quando ingressei no curso de física da PUC do Rio em1979, era a encarnação perfeita do cientista romântico, com barba, cachimbo e tudo. Lembro-me, com um certo embaraço, do meu experimento para 'investigar a existência da alma'. Se a alma existia, pensei, tem que ter uma natureza ao menos em parte eletromagnética, de modo a poder animar o cérebro. E se eu convencesse um hospital a dar-me acesso a um paciente em coma, já prestes a morrer? Assim, poderia circundá lo com instrumentos capazes de detectar atividade eletromagnética.Talvez pudesse detectar a cessação do desequilíbrio elétrico que caracteriza a vida [...] Por via das dúvidas, o paciente deveria também estar deitado sobre uma balança bem precisa, caso a alma tivesse peso." 

Continuo: "Na verdade, minha incursão no terreno da "teologia experimental" era mais brincadeira do que algo que levei a sério. Porém, minha metade vitoriana charlatã, devo dizer, tinha ao menos um predecessor. Em 1907, um certo Dr. Duncan MagDougall de Haverhill, em Massachusetts, conduziu uma série de experimentos para medir o peso da alma. Embora sua metodologia fosse altamente duvidosa, seus resultados foram mencionados no prestigioso "New York Times": "Médico crê que alma tem peso", afirmou a manchete. O peso era em torno de 21,3 gramas, embora tenha havido algumas variações entre os poucos pacientes investigados. Como grupo de controle, ele pesou 15 cães, mostrando que eles não sofriam qualquer mudança de peso. O resultado não o surpreendeu, pois suspeitava que só humanos têm almas."

Os experimentos de Mag Dougall inspiraram o filme "21 Gramas", com Sean Penn fazendo o papel de um matemático à beira da morte.

De volta a Hawking, devo dizer que concordo com ele. Tudo o que sabemos sobre como a natureza opera indica que a vida é um fenômeno bioquímico emergente que tem um início e um fim. Do ponto de vista científico, vida após a morte não faz sentido: existe a vida, um estado complexo da matéria em que um organismo interage ativamente com o ambiente, e existe a morte, um estado em que essas interações tornam-se passivas.

Morte é ausência de vida. (Mesmo o vírus só pode ser considerado0 vivo dentro de uma célula anfitriã.) É perfeitamente compreensível querer mais do que algumas décadas de vida, ter esperança de que existe algo mais. Porém, nosso foco deve ser no aqui e no agora, e não no além. O que importa é o que fazemos coma vida que temos, curta que seja. Após ela, o que persiste são as memórias naqueles que continuam vivos.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro Criação Imperfeita.

Retirado de: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2205201103.htm>. Acesso em 24 de maio de 2011.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Extremismo de direita: o vilarejo dominado por neonazistas

Pierre Boulat, abril de 1968
Saudações de Hitler na rua e prática de tiro na floresta: os neonazistas tomaram um vilarejo inteiro na Alemanha e as autoridades parecem ter desistido dos esforços para combater o problema. O lugar passou a simbolizar a crescente influência da extrema direita em partes do antigo leste comunista.

Horst e Birgit Lohmeyer trabalham há seis anos no sonho de suas vidas, a reforma de uma casa na floresta perto de Jamel, um vilarejo minúsculo próximo de Wismar, no Estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Birgit Lohmeyer escreve romances criminais, seu marido é músico e ambos tentam fingir que tudo está normal aqui em Jamel.

Não foi fácil encontrar a nova casa deles. Os Lohmeyer passaram meses dirigindo pelo interior todo fim de semana, seguindo para o leste de onde moravam em Hamburgo, mas a maioria das casas que viram era cara demais. Então encontraram a barata casa de fazenda de tijolos vermelhos em Jamel. Ligeiramente em ruínas, mas não distante do Mar Báltico, a casa é cercada por limeiras e bordos, próxima de um lago.

Os Lohmeyer sabiam que um notório neonazista morava perto dali –Sven Krüger, um dono de uma empresa de demolição e membro importante do Partido Nacional Democrático (NPD) de extrema direita. O que os Lohmeyer não sabiam é que outros vizinhos se sentiam aterrorizados por Krüger. Ele e seus associados estavam prestes a comprar todo o vilarejo.

Jamel é um exemplo do problema de extrema direita que aflige Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental há anos. A região rural, antes parte da Alemanha Oriental comunista, tem uma reputação ruim neste aspecto –o NPD, que glorifica o Terceiro Reich, está presente no Parlamento estadual desde 2006 e crimes neonazistas fazem parte da vida cotidiana. Nos últimos meses, uma série de ataques contra políticos de todos os partidos democráticos tem abalado o Estado. Dificilmente passa uma semana sem um ataque contra outro escritório eleitoral distrital, com bombas de tinta, pichações de extrema direita e janelas quebradas.

Norbert Nieszery, líder do Partido Social Democrata (SPD) de centro-esquerda no Parlamento estadual, chama isso de uma “forma inicial de terror”. As janelas do escritório de Nieszery foram quebradas duas vezes. O ministro do Interior estadual, Lorenz Caffier, da União Democrata Cristã (CDU) de centro-direita, diz ter registrado um novo nível de violência extremista de direita. Ele acredita que o NPD está tentando ganhar notoriedade por meio de comportamento agressivo antes da eleição parlamentar estadual em setembro. Um prefeito local pediu proteção policial após receber repetidas ameaças da direita. O Escritório Federal para Proteção da Constituição, a agência de inteligência doméstica da Alemanha, alerta que o NPD está se tornando cada vez mais influente nos municípios locais e os neonazistas estão tentando se entranhar na vida cotidiana.

Mortalidade violenta entre jovens brasileiros

Ignácio Cano, sociólogo do Laboratório de Análise da Violência, da Uerj, explica os resultados do Mapa da Violência 2011 e do Índice de Homicídios de Adolescentes de 2010, que mostram que a violência letal entre jovens continua em patamares muito altos, principalmente nas regiões mais pobres do país.

Cidades de porte intermediário no interior do Brasil apresentam os índices mais altos de mortalidade entre jovens e o Nordeste é a região com mais violência letal, de acordo com o Mapa da Violência, lançado em 2011 pelo Instituto Sangari. Os dados são confirmados pelo Índice de Homicídios de Adolescentes, produzido em 2010 pelo Observatório de Favelas em parceria com o Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e o Unicef.

Nessa entrevista ao Comunidade Segura, o sociólogo Ignácio Cano interpretou os resultados das pesquisas. Ele alerta que o risco dos adolescentes cresce em relação ao da população em geral e explica que a pobreza e a baixa qualidade da educação estão associadas à violência letal, que deve ser combatida com a inserção social da população mais pobre e políticas de controle de armas e de segurança pública voltadas para a redução dos homicídios.

Na entrevista, Cano discute ainda a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio e a produção e divulgação de dados sobre Segurança Pública no Brasil.

Por Marina Lemle

De acordo com o Mapa da Violência 2011, enquanto a taxa de mortalidade total da população brasileira caiu, a dos jovens subiu, puxada pelos homicídios. Na população não jovem, 2% das mortes são por homicídio. Entre os jovens esse percentual é de 40%. Estamos diante de um genocídio de jovens?Genocídio não é a palavra mais adequada, mas certamente estamos diante de uma situação de crise muito grave que tem impactos terríveis para juventude e a sociedade dos pontos de vista demográfico, econômico e político. Como as pessoas morrem jovens, há impactos na pirâmide demográfica, na geração de renda das famílias, nas mulheres que não encontram parceiros. É uma tragédia que a gente acaba naturalizando e não deveria. Temos que nos mobilizar para considerar que isso é uma circunstância excepcional e não pode continuar.

sábado, 16 de abril de 2011

Há algo de podre na hora do recreio

George Skadding, set, 1949.
Alguém tem alguma sugestão melhor do que "intimidação" para traduzir a palavra "bullying"? 


POR QUE SERÁ que o termo "bully- ing" não encontra tradução para o português? A palavra que mais se aproxima é "intimidação", mas não chega nem mesmo a resvalar na violência contida no gesto, no terror que ronda a vítima nem na valentia vã do perpetrador.


Não é possível que as crianças anglo-saxãs sejam tão piores assim do que as nossas, que lá exista um termo para definir um tipo de boçalidade que só agora começamos a discutir publicamente.


Está certo que o sistema educacional inglês não ajuda muito a preservar um sentimento de justiça entre alunos -com seus colégios internos e "prefects", os estudantes transformados em bedéis, uma casta criada na hierarquia da escola que adquire uma série de privilégios entre os quais a liberdade de disciplinar outros alunos.


Estudei na Escola Britânica de São Paulo e fui eleita "prefect". Não sei exatamente qual o critério usado na hora de colocar uma termocéfala como eu para comandar outras crianças. Mas lembro de distribuir castigos para quem era pego correndo e gritando no corredor na forma de redações de 200 palavras sobre temas como: "A importância de se plantar ovos" ou "Por que espaguete nasce em árvores na China".